O que é sharenting? Entenda os riscos da exposição infantil

17 de janeiro de 2024

Você já parou para pensar na quantidade de fotos e vídeos que você publica dos seus filhos nas redes sociais? Essa prática, conhecida como sharenting, é cada vez mais comum entre os pais que querem compartilhar os momentos especiais da infância com seus amigos e familiares. Mas será que essa exposição é benéfica para as crianças? Quais são os riscos e as consequências que ela pode trazer a curto e longo prazo? Entenda tudo sobre o que é sharenting!

Mas o que é sharenting na prática?

Sharenting é a junção das palavras em inglês share (que significa dividir, compartilhar) e parenting (em português, parentalidade). Dessa maneira, essa atitude diz respeito ao compartilhamento de fotos e vídeos que antes costumavam ficar em círculos privados.

Segundo uma pesquisa feita em 2017 pelo site Knowthenet, com 2 mil pais de crianças pequenas britânicas, estes publicavam online, por ano, 195 fotos de seus filhos. Antes de completar cinco anos, essas crianças têm, em média, mil fotos delas postadas na internet.

Esses números mostram que as crianças atuais compõem “a geração mais observada em toda a história”, nas palavras de Benjamin Schmueli e Ayelet Blecher-Prigat, num dos mais importantes artigos acadêmicos sobre privacidade infantil.

Vale destacar que existem dois tipos de sharenting:

  • Sharenting comercial: quando os pais buscam ganhos financeiros com a publicação e divulgação de fotos e vídeos dos filhos;
  • Não comercial: trata-se do compartilhamento de conteúdo sem objetivo econômico.

Leia também: Alienação Parental e suas consequências


Quais os problemas provocados pelo sharenting?

Após entender o que é sharenting, ficam algumas perguntas no ar: mas qual é o problema de publicar fotos dos filhos nas redes sociais? Afinal, não é uma forma de demonstrar amor e orgulho pelos pequenos? Não é uma maneira de manter contato com parentes e amigos distantes? Não é um direito dos pais decidirem o que fazer com as imagens dos seus filhos?

A resposta para essas perguntas não é simples, pois envolve diversos aspectos éticos, jurídicos, psicológicos e sociais. No entanto, é preciso ter em mente que o sharenting pode trazer alguns riscos e desafios, tanto para os pais quanto para as crianças, que devem ser considerados antes de clicar no botão “compartilhar”. Veja alguns deles a seguir:

Privacidade

Ao publicar fotos e vídeos dos filhos nas redes sociais, os pais estão expondo informações pessoais sobre as crianças, como o nome completo, a data de nascimento, o local onde estudam, os gostos, as preferências, as opiniões, os sentimentos, entre outras.

Essas informações podem ser acessadas por pessoas desconhecidas, mal-intencionadas ou até mesmo criminosas, que podem usá-las para fins ilícitos, como roubo de identidade, extorsão, assédio, cyberbullying, pedofilia, entre outros.

Além disso, esses dados podem permanecer na internet por tempo indeterminado, podendo ser usados no futuro para prejudicar a reputação, a imagem ou a carreira das crianças.

Consentimento

Com o compartilhamento das imagens dos filhos, os pais estão tomando uma decisão que afeta diretamente a vida das crianças, sem que elas tenham voz ou escolha sobre o assunto.

Isso pode gerar uma violação do direito à imagem, à intimidade e à personalidade das crianças, que são sujeitos de direito e não objetos dos pais. Tal fato pode gerar um conflito entre os pais e os filhos, quando estes crescerem e se sentirem constrangidos, envergonhados ou incomodados com o conteúdo que foi publicado sobre eles sem o seu consentimento

Desenvolvimento

Este tipo de exposição influencia o modo como as crianças se percebem e se relacionam com o mundo.

Isso pode gerar dependência da aprovação alheia, distorção da autoimagem, perda da identidade, dificuldade de lidar com as emoções, pressão para corresponder às expectativas, vulnerabilidade à comparação, exposição à crítica, entre outros problemas que podem afetar a saúde mental e emocional das crianças.


O que é sharenting no direito brasileiro?

Dentro do direito brasileiros, temos dois princípios que podem ser utilizados nesse tipo de situação de o que é sharenting. Assim, é possível limitar o direito à liberdade de expressão dos pais.

Princípio da prioridade absoluta

Conforme o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, o princípio aborda o dever da família de garantir, com prioridade, o cumprimento dos direitos das crianças:

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Princípio do melhor interesse

Em caso de conflitos, este princípio prevê a busca por uma solução que proporcione o maior benefício possível para a criança ou adolescente.

Saiba mais: Sucessão e herança: como proceder em casos de testamento, partilha de bens e inventário

Como proteger os filhos do excesso de exposição?

Diante desses riscos, o que os pais podem fazer para proteger os seus filhos e ao mesmo tempo aproveitar os benefícios das redes sociais? A resposta também não é simples, mas existem algumas dicas que podem ajudar:

Refletir

Antes de publicar qualquer conteúdo sobre os filhos nas redes sociais, os pais devem se perguntar: Por que eu quero compartilhar isso? Com quem eu quero compartilhar isso? Como isso pode afetar o meu filho agora e no futuro? Qual é o valor e o propósito desta publicação?

Essas perguntas podem ajudar os pais a avaliar se o conteúdo é realmente necessário, relevante e seguro, ou se é apenas uma forma de exibição, vaidade ou ostentação.

Respeitar

Os pais devem pedir a opinião e a permissão das crianças, sempre que possível. É importante explicar aos filhos o que são as redes sociais, como elas funcionam, quais são os riscos e as vantagens, e como eles podem participar de forma consciente e responsável.

Assim, os pais devem respeitar a vontade e a privacidade dos filhos, e não publicar nada que possa constranger, ofender, expor ou prejudicar as crianças de alguma forma.

Restringir

Além disso, os pais devem configurar as opções de privacidade e segurança das suas contas, de forma a limitar o acesso e a divulgação das informações, escolhendo bem as pessoas com quem vão compartilhar o conteúdo, e evitando que o material seja visto por estranhos, desconhecidos ou indesejados.

É fundamental também evitar a publicação de dados sensíveis, como localização, documentos, endereços, telefones, entre outros, que possam facilitar a identificação ou a localização das crianças.

Ainda pouco discutido no Brasil, o sharenting é uma prática que pode ter aspectos positivos e negativos, dependendo da forma como é feita. Dessa forma, os pais devem ter cuidado, bom senso e equilíbrio ao compartilhar as fotos e os vídeos dos seus filhos nas redes sociais, pensando sempre no bem-estar e na segurança das crianças.


Sobre o BVP Advogados Associados

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